Racismo prejudica acesso da população negra ao diagnóstico e tratamento da aids, indicam pesquisas apresentadas em simpósio nacional

"É preciso criar ações afirmativas", defende Mário Lisboa Theodoro, do Ipea


Diferentes estudos apresentados nesta quinta-feira durante o I Simpósio Nacional de Saúde na População Negra e HIV/AIDS indicaram que a vulnerabilidade social a que os negros estão acometidos dificulta o acesso deles ao diagnóstico e tratamento a AIDS. Segundo Mário Lisboa Theodoro, do Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada (Ipea), é preciso acabar com o racismo institucionalizado. "Esse é o grande desafio. O racismo faz com que a saúde deixe de ser universal porque dificulta o acesso a ela e influencia no esquema de atenção que a pessoa terá", explicou. O Simpósio está sendo realizado em Campinas (SP) e termina amanhã.


"Discriminação é caso de polícia. Racismo é caso de política: políticas públicas", acrescentou Mário. Para ele, a saída é criar ações afirmativas em diferentes ministérios. "Uma opção são as cotas. No Brasil o caso mais em voga é a utilização do método para a seleção no ensino superior. Sou um defensor ardoroso dessa ideia".


Segundo o integrante do Ipea, sempre existiram cotas no país. "Isso ocorre, por exemplo, quando um brasileiro faz pós-graduação no exterior por meio de uma bolsa de estudo que conseguiu por ser latinoamericano. Mas disso ninguém reclama. Existe resistência nas cotas para negros porque, se bem colocadas, vão abrir a possibilidade de a elite ser mais parecida com o restante do povo".


Para Mário, a sociedade brasileira aceita o machismo. E não faltam dados que justifiquem esse argumento: cerca de 70% dos indigentes brasileiros são negros, o desemprego é até 40% maior para negros em relação aos brancos, a escolaridade do negro é em media dois anos menor que a do branco, segundo o Ipê.


Conheça algumas pesquisas


Em Porto Alegre, a Associação Cultural de Mulheres Negras realizou abordagem quantitativa com 204 soropositivos usuários de um Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e abordagem quantitativa com outras dez pessoas que não passam por esse serviço. Foram avaliadas principalmente questões sociais, econômicas e de acesso ao diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS. Em relação à renda e escolaridade, os dados entre brancos e negros são semelhantes até o período do ensino médio incompleto. Acima desse nível escolar, há predominância de não negros tanto em relação ao grau de instrução quanto à renda maior. O estudo conclui que a discriminação vai além do fato de ser negro, pobre e viver com HIV, chegando a afetar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento.


Pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) teve resultados complementares: os negros tomam conhecimento do diagnóstico positivo para o HIV mais tarde que o branco. Ainda, enquanto o negro se descobre com o vírus da AIDS em situações clínicas complicadas e emergenciais, com o branco o diagnóstico é realizado por meio de serviços especializados ou particulares. O branco teria, portanto, mais acesso a informação e a saúde. A pesquisa ocorreu com mil pacientes que passam por atendimento nos serviços de HIV/AIDS da própria instituição e outros mil externos.


O evento é organizado pela Unicamp.


Fábio Serrato






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